Me interessa muito mais o vai-e-vem de quem é furtivo, de quem escapa do olhar e fica sempre em segundo plano.
Comecei a fotografar as sombras enquanto elas estavam distraídas.
Não é fácil. São tímidas e se escondem até à noite.
Entre um click e outro, lembrei de um amigo que passou a vida sendo sombra de si mesmo e dos outros.
Não possuía vontades ou cedia sempre à vontade dos outros.
Cresceu como os outros queriam, estudou o que os outros queriam, arrumou o trabalho que os outros queriam.
Se casou com uma pessoa que é seu oposto, como geralmente acontece.
Ele foi desaparecendo aos poucos, sombra que era, e chegou o momento em que eu tirei-lhe a foto.
Sua figura desvanecia, como se estivesse em uma pintura velha, e estava cada vez mais parecida com vapor.
Até que chegou o dia em que ele desapareceu.
Espero que ele encontre a si mesmo algum dia.
Coloquei sua foto entre meus catálogos e parei de fotografar.
Nenhum comentário:
Postar um comentário