terça-feira, 26 de junho de 2012

Resenha do filme O Palhaço

Selton Mello interpreta o palhaço Pangaré, palhaço que vive uma crise existencial e já não sabe mais se a profissão de palhaço é a que lhe cabe. É um palhaço que se mostra depressivo.

Se a princípio palhaço e depressão podem parecer grandezas antitéticas, essa convivência se torna plausível quando percebemos que a realidade muitas vezes difere da representação.

É um filme de contrastes, de antíteses, de paradoxos. A começar pela dicotomia da felicidade que o palhaço representa no palco e o humor apático -pode-se dizer tristeza- que ele mostra quando as cortinas se fecham, quando ele tem que representar a si mesmo. A ironia é representada pelo fato de, dentre todos no circo, justo o palhaço é o melancólico. Ora, o palhaço é aquele que pinta uma máscara de felicidade para esconder a desordem que há por baixo. Num mundo como o nosso em que a imagem é supervalorizada, é comum considerarmos o exterior como o determinante de uma personalidade. Assim como o monstro do livro It -A Coisa-, de Stephen King, a figura desse personagem não raramente mostra-se assustadora. Isso se dá pelo simples fato desses enredos causarem uma torção dessa figura. O enredo vira-lhes a pele ao avesso. É deixar de confiar na aparência para enxergar a complexidade que há dentro.

Há um silênco que reina em relação às pessoas ao redor de Pangaré. Todos percebem que ele sofre, mas ninguém diz nada, nem ele mesmo. A situação se agrava quando ele encontra Ana, que após uma breve conversa, o faz alimentar esperanças sobre encontrá-la em sua cidade.

O palhaço passa, então, a possuir um objetivo em sua vida vazia. Ele se desabafa com uma estranha, já que em sua família circense nada se diz. "Faço todo mundo rir, mas quem é que vai me fazer rir?", pergunta ele à estranha, mas fala é consigo mesmo, dando voz ao seu desespero.

E os contrastes vão sendo mostrados: o delegado corrupto de nome Justo, a solidão do palhaço exacerbada ao observar um casal se beijando, a vastidão de mundo que ele encontra ao abandonar a convivência de seus companheiros -embora eles mesmos sejam nômades-.

Ele inicia uma peregrinação solitária em busca de ana, e como que para concretizar o que seu pai lhe disse, a vida fora do circo decepciona Pangaré. Ana, sua meta de vida, é casada e o novo emprego que ele arranja é tão monótono quanto as pessoas que estão nele.

Ele volta, então, para o circo, pois "é a única coisa que ele sabe fazer", deixando ao telespectador uma dúvida quanto ao real motivo de sua volta: satisfação ou resignação? Antíteses!

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