domingo, 15 de fevereiro de 2015

Não Conheço Sua História

Ela caminhava de madrugada. Gostava do silêncio enquanto fumava seu cigarro.
Parou pra uma conversa com o mendigo, que lhe pediu um trago.
Como de costume, subestimou aquele homem maltrapilho." É só mais um vagabundo".
Mas ele falava das coisas que não se vê. Sem dinheiro, ele aprendeu sobre o que não tem valor.
Contou a ela que às vezes dói.
"Mas onde dói, moço? Você se machucou?"
Ele disse que não. Às vezes dói aqui dentro mesmo. Como Macabea, sabe?! Dói ver a vida passar e a ela não pertencer.
Ela não soube se foi pela referência a Clarice Lispector, ou pela beleza das palavras, mas percebeu que aquele homem era grande.
Achou pouco lhe dar dinheiro, então lhe deu um abraço.
O homem sorriu, um sorriso sem dentes. Mas era exatamente o que ela queria: compreensão.

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