quinta-feira, 11 de dezembro de 2014

A Velhice da Mulher

Retrato de Adele Bloch-Bauer I -Gustave Klimt, 1907 


Hoje me olhei no espelho e não reconheci meu rosto. Fui retocando um pedaço aqui, outro ali, sempre negando a passagem do tempo. Que mulher quer ficar velha?! Somos amantes da estética de plástico. Nossas Barbies não envelhecem.

Cheguei na meia idade. Meia. Meio caminho percorrido antes da morte. Já contam nosso tempo restante em vida. A matemática pode sempre ser cruel com a nossa utilidade.

Os cabelos brancos começaram a aparecer. Me aconselharam pintar os cabelos. Disseram que não existe esse negócio de mulher grisalha. "Veja o telejornal. As apresentadoras mulheres saem de cena antes de envelhecer. Cabelos grisalhos é coisa pra homem". Mas que fim digno. Sair de cena enquanto ainda se está no auge. Pintei os cabelos.

As primeiras rugas começaram a aparecer. Me aconselharam fazer uma plástica. "Que tipo de mulher ostenta os pés de galinha"?! Eles tinham razão. Nossa idade não pode servir como cartão de visitas. Fiz a cirurgia, sofri, mas levantei tudo o que caía. Recebia elogios e voltei a receber cantadas pelas ruas. Até que encontrei o homem ideal. Ele disse que minha "boa aparência" foi o que lhe chamou a atenção. O romance durou o tempo que ele demorou pra ver a diferença entre meu rosto e minhas mãos. Há rugas que a plástica não esconde.

Mas prossegui tentando manter a cabeça erguida. Foi quando fiz 50. A idade de ouro. Me aconselharam mentir a idade. "Nenhuma mulher diz a sua idade assim. E quando perguntam, diga que é falta de respeito". A idade é tão vergonhosa de se dizer quanto o salário. Desde então, nos meus aniversários sempre coloco o mesmo número sobre o bolo. As velas dizem que faço 37 há cinco anos. Meus amigos fingem não notar o elefante na sala, e eu finjo não notar suas caras de desapontamento.

Um sinal da velhice que me preocupou. Menopausa. A minha chegou e eu a encarei como ela é de fato: um arauto de morte. Queria ficar feliz pelo fim da rotina de absorventes, anticoncepcionais e cálculos confusos, mas não. "Agora, além de velha você está seca". Eles têm razão. Quem vai querer uma mulher na menopausa?! Pra isso não há remédio nem conserto.

E tantos outros casos que me fizeram mudar. Não foi contra minha força, porque eu já tinha assumido como correto o discurso que me impedia de envelhecer. Agora não quero encarar o espelho. Quero tirar esses acessórios que coloquei pra que não me vejam. Tenho vergonha do tamanho das minhas orelhas, uso brincos grandes. Vergonha do tamanho do nariz, uso maquiagem para afinar. Tenho vergonha da solidão, saio de casa sempre carregando um livro. A gente vai criando armaduras contra os duros comentários.

Quando criança, me perguntavam o que eu queria ser quando crescer. Eu queria ser grande, adulta. Hoje eu me pergunto o que quero ser daqui pra frente, com vários objetivos alcançados. Eu só queria me despir. Despir a pele e começar de novo.

Nenhum comentário:

Postar um comentário